Por Leon J. Suprenant, Jr.
Leon J. Suprenant trabalha para My Catholic Faith Delivered e é autor e contribuinte de vários livros, incluindo a série Catholic for a Reason.
Photo Credit: Erica Viana
Deve ser evidente que Cristo é o centro da vida cristã. Afinal, não há salvação em mais ninguém (Atos 4:12), e no coração do Evangelho está o chamado clarividente para seguir Jesus, para se tornar Seus discípulos (Lucas 9:23).
Aqueles de nós que ouviram e aceitaram o chamado do nosso Senhor para segui-lo são convidados a uma relação íntima e pessoal com Ele. Infelizmente, alguns católicos podem ser adiados por esta terminologia de “relação pessoal”. No entanto, o cristianismo não é um mero código moral, um clube étnico ou um fenômeno cultural; ao contrário, em sua essência está a aceitação de Jesus Cristo, o Filho de Deus, como nosso Senhor e Salvador pessoal.
Tal relacionamento com nosso Senhor implica necessariamente uma rede de relacionamentos eclesiais, familiares. Aqueles de nós que vêm de famílias grandes (eu sou o mais novo de catorze filhos) sabemos em primeira mão como as famílias podem cogumelar a tal ponto que mal podemos acompanhar todos os nossos parentes. No entanto, a razão pela qual temos essas relações é que nascemos na mesma família, que compartilhamos um pai comum. Similarmente, nosso relacionamento com Jesus Cristo é tal que Ele nos dá poder para sermos filhos de Deus – seus irmãos e irmãs por adoção (Rm 8,14-15).
Então nós temos um relacionamento com nosso Senhor que é tanto pessoal quanto familiar. Sabemos também que este relacionamento deve ser central em nossas vidas. Se um marido ignorar seu cônjuge, seu casamento vai sofrer. Se alguém nunca se comunica com o seu melhor amigo, deixará de ser o melhor amigo. Da mesma forma, o nosso Senhor espera o nosso total compromisso com esta relação com Ele. É por isso que nas Escrituras Ele condena severamente a indiferença ou a tepidez: “Conheço as tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá você fosse frio ou quente! Então, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca” (Ap 3,15-16).
Mas como vivemos a nossa relação pessoal com Jesus Cristo? Nós O alcançamos, sabendo que Ele está presente para nós de muitas maneiras. A qualquer momento, podemos invocá-Lo em oração. Ele está presente em Sua Palavra, que é “viva e ativa” (Hb 4,12). Ele está presente onde dois ou três estão reunidos em Seu nome (Mt 18,20). Ele está presente na pessoa de seus apóstolos e seus sucessores – o Papa e os bispos – para que aqueles que os ouvem ouçam Cristo (Lc 10,16). Ele está presente nos pobres e esquecido em nosso meio (Mt 25,34-40). Todas estas e outras formas de encontrar Cristo e de alimentar a nossa relação pessoal com Ele são legítimas e extremamente importantes. Mas para além destes, encontramos Cristo de forma mais plena, mais íntima – Corpo, Sangue, Alma e Divindade – na Eucaristia. Dizemos que Ele está especialmente presente na Eucaristia porque tal presença não é apenas espiritual, mas tangível e corpórea (CIC 1374). Jesus é a “vida”, e quando recebemos o nosso Senhor no corpo, o “pão vivo”, na Eucaristia, realmente participamos e nos apoiamos nesta fonte sobrenatural de vida (Jo 6, 51).
O Catecismo chama à Eucaristia a “fonte e o cume” da vida cristã, que é uma síntese do ensinamento do Concílio Vaticano II. Isto ajuda a colocar esta questão em um foco mais aguçado. A Eucaristia é o ápice da vida cristã. E o “cume” assume uma orientação ascendente. Para apreciarmos o “cume” mais plenamente, precisamos de ordenar as nossas vidas em torno da Eucaristia, para garantir que estamos devidamente dispostos a receber dignamente o Sacramento. Enquanto a Missa semanal é o “mínimo”, a participação mais frequente é calorosamente encorajada pela Igreja, assim como a adoração eucarística fora da Missa.
A Eucaristia é também a fonte da vida cristã. Como o próprio Jesus diz, “parte de mim nada podeis fazer” (João 15,5). Nada. Nada. Zilch. Cada momento um ramo vivo extrai nutrientes e a própria vida da videira. Da mesma forma, através da Eucaristia, Jesus nos comunica continuamente sua graça que não é nada menos que os nutrientes que precisamos para nos sustentar em nosso discipulado cristão diário (João 15:1-6).
A medida que reconhecemos a necessidade de uma relação pessoal com nosso Senhor e de nutrir esta relação, devemos voltar continuamente a este ponto: é Deus quem inicia a relação. Deus nos amou primeiro, e a nossa vocação é responder a esse amor (cf. 1 João 4,10). E Deus não só inicia a relação, mas vai até à nossa procura, a ponto de se tornar um como nós na Encarnação. O Papa João Paulo II exprimiu de forma bela esta visão na Carta Apostólica de Preparação para o Jubileu do Ano 2000:
A cristandade tem o seu ponto de partida na Encarnação do Verbo. Aqui não se trata simplesmente de um homem que procura Deus, mas de Deus que vem pessoalmente falar de si mesmo ao homem e mostrar-lhe o caminho pelo qual ele pode ser alcançado. . . . Em Jesus Cristo Deus não só fala ao homem, mas também o procura. A Encarnação do Filho de Deus atesta que Deus vai em busca do homem… . . É uma busca que começa no coração de Deus e culmina com a Encarnação do Verbo. Se Deus vai em busca do homem, criado à sua imagem e semelhança, fá-lo porque o ama eternamente no Verbo e deseja elevá-lo em Cristo à dignidade de filho adotivo.
Esta verdade espantosa ajuda-nos a ver a Eucaristia sob uma nova luz. Antes de entrarmos no mundo de Deus como Seus filhos amados, Ele entra primeiro no nosso. Como a forma preeminente de Deus permanecer no nosso mundo é através da Santa Eucaristia, então a Eucaristia deve dar-nos importantes pistas sobre a razão pela qual Cristo assumiu a natureza humana em primeiro lugar (Catecismo 456-60). A Eucaristia aponta não tanto para a “inacessível transcendência” de Deus, mas para a “divina condescendência”.